quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Às armas, às armas!

«A boa-vontade, a solidariedade...valem mais do que mil ataques nucleares!»

 
 
Não há austeridade que vença...

"armas" feitas de fé, amor e esperança.

A crise não é um posto.

Não pode ser!

Não comanda os desígnios da felicidade,

Não!

É de baixa patente diante da força da união das gentes!

A boa-vontade, a solidariedade...

valem mais do que mil ataques nucleares!

Lutem com sonhos, com amizade, com entreajuda...

Unam-se de esforços em prol do bem comum...

E concretizem!

Não se limitem a agradecer...

E retribuam!
 
E nisto, deixo um hino...
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Word in my head..."Yellow"













A palavra não me sai da cabeça!

Independentemente da sua etimologia,

[A começar no yellow em inglês,

Passa pelos germânicos gelwaz, geolw,

Toca no latim flavus e termina no amarelo,

Parte integrante do meu léxico.]

Tudo faz sentido!

A minha mente mescla e deriva os termos,

À velocidade da luz...

Pensando em tons de ouro, ocre e âmbar.

Sinto-me hoje iluminada,

Os meus pensamentos irradiam e alegram-se!

Tenho dentro de mim a energia...

De uma explosão de estrelas e sóis

E vejo claramente!

Renasço a cada sensação dourada

E acredito!

Venha a desilusão amanhã,

Ou não venha...

Hoje estou capaz de (re)"construir as pirâmides do Egipto"!*


*Um dia conto esta história de "construir as pirâmides do Egipto"...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Inspiração “November Rain”*














Na fria chuva de Novembro

Estou prestes a fechar uma página,

A preencher um novo trecho,

A ser feliz...

Dure o que durar!
 

Vou percorrer um trilho...

Às cegas, usando a intuição…

Sem procurar o destino,

Sem ambicionar o definitivo…

 
Vou caminhar descontraidamente

Na fria chuva de Novembro…

Sem medo!

Deixar para trás o que ficou.

Sem pena!

 
Fito o horizonte

Deixo os meus demónios…

Levo os meus guardiões.

Vou ser feliz e colher os meus frutos...

Enquanto durar!



*Título de uma música da banda  de rock americana "Guns N' Roses".


                                          November Rain

 

Peça | "Invasão ao Território dos Mortos"



 
 
Em 2007, assistiu-se a uma vaga de assaltos a cemitérios no concelho de Coimbra e Cantanhede. Em entrevista, habitantes das zonas de Ança, São João do Campo, São Silvestre e Geria falaram sobre o sucedido.

NOTA: Trabalho efectuado no âmbito da cadeira de "Jornalismo Televisivo", da licenciatura em Cmunicação Social.

sábado, 10 de novembro de 2012

Vila da Tocha: Dezenas rezaram pelas "Alminhas" no cemitério

O Cemitério da Tocha - que descobri, recentemente, ter sido mandado construir por um antepassado, o meu Tio-Trisavô Manuel Maria D'Andrade - reuniu, hoje, dia 10 de Novembro, dezenas de pessoas em oração pelas almas dos finados.
 

Soube, poucas horas antes, que iria ser celebrado o "Dia das Almas" - assim me foi transmitido o nome do evento - que começaria com uma missa na Igreja de Nossa Senhora D'Atocha e prosseguiria com uma romagem ao lugar de eterno repouso. Confesso, só conhecia os dias litúrgicos de "Todos os Santos" e dos "Fiéis Defuntos", assinalados a 1 e 2 de Novembro, respectivamente.

Um tanto (muito!) afastada dos ritos religiosos não deixo, ainda assim, de celebrar algumas ocasiões conotadas com o catolicismo. Gosto da ideia de tradição, de ancestralidade e de uma sensação q.b. de catarse. Aprecio, sobretudo, observar essas (como outras) manifestações culturais. Não quero com isto dizer que sou agnóstica, pelo contrário, considero-me até um ser bastante espiritual e crente numa Energia Superior. Simplesmente, não lhe atribuo um nome, nem me guio por regras ou sequer sigo escrituras. Há, eventualmente, alguma teoria desta ou daquela religião com a qual eu concordo, alguma oração ou dogma que fazem para mim algum sentido. Acredito, de resto, na existência da Alma e na sua imortalidade.

Por outro lado, há algo que me atrai para o fúnebre e para o mistério em torno da morte. O facto é que desde criança que gosto de passear em cemitérios, vendo neles uma beleza estranha e inexplicável. Talvez pelo silêncio sepulcral, pela sensação de paz extrema que transmitem, pelo desconhecido ou, meramente, por serem os lugares onde eu me sinto mais viva!
 
Tenho um fascínio - que alguns acharão tétrico - pelas ciências forenses e médico-legais e tenho uma admiração especial pela forma descontraída com que certas culturas vêem a morte. O mexicano "Dia de los Muertos" é disso exemplo. Celebrado entre 31 de Outubro e 2 de Novembro, - a par com as tradições católicas - este tem a particulariedade de ser em formato de festival, talvez o mais animado do México. Afinal, segundo se pensa, os mortos vêm visitar os parentes nessa altura e, para os receber, a ocasião é festejada com música, comida, as populares caveiras de açucar e altares enfeitados com velas e crisântemos coloridos.
 
Para finalizar volto ao tema principal, o proclamado "Dia das Almas". Mea culpa, não sabia que tal celebração existia! Após uma breve investigação, descobri que, no catolicismo, o mês de Novembro é "consagrado ao sufrágio das almas do Purgatório" e o dia 10 é o dia da "Esperança" para que as almas sofredoras encontrem a "Luz". Por isso, dirigem-se as preces para essas "Alminhas" (nome usual no nosso país) para que se possam "purificar" e "subir" ao "Céu".

GALERIA










Tia-Bisavó Luisa Jorge Azenha

Trisavô José Maria Andrade

Tio-Trisavô Manuel Maria D' Andrade

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Varela Pècurto: “Enfim, estou satisfeito comigo!”



Varela Pècurto falou à margem da assinatura de um protocolo de doação de cerca de 800 imagens da Mealhada no Cine-Teatro Municipal Messias, a 17 de Março. As fotografias doadas à Câmara da Mealhada documentam igrejas, paisagens, pessoas, festas e muito mais - um espólio de cerca de 750 slides e algumas fotografias que Pècurto realizou no concelho, entre 1970 e 1990. “São tantas, tantas e deram tanto trabalho que há-de haver alguém que possa tirar proveito disto tudo”, disse o fotógrafo. Assim, o que move o artista a doar as suas fotografias é a esperança de que o seu trabalho de tantos anos tenha aproveitamento.

Pècurto reuniu colecções fotográficas e conquistou  vários prémios

Eduardo Francisco Varela Pècurto, nascido em 1925, reuniu ao longo da vida várias colecções fotográficas e conquistou diversos prémios quer em Portugal, quer no estrangeiro, bem com menções honrosas pela sua técnica e pela sua arte.
 

Fotógrafo sempre procurou ir mais longe e levou a sua arte além-fronteiras

Apaixonado pela fotografia desde dos tempos do liceu, Varela Pècurto contou como tudo começou. Na altura, gostava de revistas aos quadradinhos e, como a mãe lhe dava uma parca semanada, o adolescente que não resistia a comprar as publicações ‘O Mosquito’ e ‘O Papagaio’, rapidamente ficava sem dinheiro. Como se ajeitava a fotografar, decidiu recorrer àquilo que já costumava fazer por “prazer pessoal” para ganhar “mais uns trocados”. Assim, começou a vender fotografias aos colegas mais abastados. Com o tempo, o gosto e o engenho foram-se aprimorando e, rapidamente, descobriu que ser fotógrafo era a sua grande ambição. Contrariando a família que tinha para ele outros planos, o jovem determinado em perseguir o seu sonho acabou por se profissionalizar na fotografia. Foi nessa fase, em início de carreira, que fez um juramento a si próprio: “Varela, tens que fazer mais que a maioria dos teus colegas, se não és mais um nome anónimo da fotografia!”. Promessa cumprida! Com o passar dos anos, Varela Pècurto manteve-se fiel ao seu ideal e procurou sempre ir mais além na sua profissão, deu sempre o seu máximo como fotógrafo e não se ficou por aí, tendo começado a concorrer a salões internacionais obtendo enorme sucesso. “Tenho prémios de todo o mundo em ouro, em prata, em bronze, tenho menções honrosas, estou representado no museu de arte contemporânea em Lisboa, tenho a medalha de mérito cultural outorgada pela Câmara de Coimbra, fui distinguido pela federação internacional de arte fotográfica com o título de excelência”, enumerou. Com uma vastíssima colecção de fotografias que assinalam a sua passagem por vários sítios, Pècurto afirmou: “Enfim, estou satisfeito comigo!”.
 

Eduardo Francisco Varela Pècurto - Fotógrafo
 
Eduardo Francisco Varela Pècurto - Fotógrafo
 
 

Processo dos Comandos da Amadora (RetroNew)

Militares acusados de contactos com o PCP no apoio à tentativa de saneamento de Jaime Neves em 1975

Três anos após os rumores, ocorridos a 30 de Julho de 1975 na Amadora, de que “algo de muito grave do ponto de vista militar com acentuada conotação política havia ocorrido no interior do quartel do Regimento de Comandos”, alguns oficiais e sargentos que ali prestavam serviço em Agosto de 1975, deram entrada sob prisão, na Casa de Reclusão da Trafaria. Segundo o relato do jornal “A Capital” de 27 de Novembro de 1978, os militares são acusados de estar envolvidos na tentativa de saneamento de Jaime Neves com o apoio do Partido Comunista Português (PCP), que no pós 25 de Abril de 1974, se tentou introduzir no seio político-militar numa tentativa exacerbada de dominar o poder do país.

O matutino “Primeiro de Janeiro” de 25 de Novembro de 1978, noticia que no libelo acusatório indica que os réus tinham ligações com o PCP e em particular com Álvaro Cunhal, de quem teriam o apoio para sanear alguns oficiais do Regimento de Comandos da Amadora, nomeadamente o seu comandante, Coronel Jaime Neves. O que alegadamente terá despoletado a hostilidade para com Jaime Neves, como refere “A Capital”, terá sido o boato que circulava no quartel dos comandos de que o dito comandante preparava um alegado “golpe reaccionário”, o qual teria por finalidade “a eliminação física do então primeiro-ministro, General Vasco Gonçalves”. Ainda de acordo com o libelo citado pelo matutino do Porto, o boato originado a 30 de Julho de 1975, veio a traduzir-se em afirmações concretas de alguns oficiais e sargentos presumivelmente implicados. Naquele dia, 30 de Julho de 1975, terão havido combinações no sentido de barrar a entrada do comandante no quartel. Ainda no mesmo dia ter-se-á comunicado que Jaime Neves dissera na Messe de oficiais que “matava todos os comunistas”, e que por isso era necessário “falar com os camaradas de confiança, alertando-os de que não saíssem do quartel sem a confirmação do Comando Operacional do Continente (COPCON)”, esclarece o “Primeiro de Janeiro”. Este jornal refere ainda que tais boatos se foram avolumando, chegando a dizer-se que a Polícia Militar e a Escola Prática de Cavalaria viriam atacar o Regimento de Comandos. É mencionado também naquela peça do processo, que nessa mesma tarde, do dia 30 de Julho de 1975, terá havido contacto com o comandante da Polícia Militar, que terá aconselhado os membros daquela instituição a não abandonar a unidade.

Consoante as acusações terá existido o contacto de um dos oficiais com a sede do PCP na Amadora, para “dar conhecimento às massas populares do que se estava a passar”, isto é, de que Jaime Neves “se preparava para fazer um golpe contra-revolucionário”. O dirigente local do PCP teria respondido que o assunto devia ser tratado na sede deste mesmo partido, nomeadamente com o Secretário-Geral, Álvaro Cunhal.

Na sequência dos acontecimentos, reporta o “Primeiro de Janeiro”, e baseando-se no referido libelo terá sido estabelecida na delegação local do PCP, uma senha e uma contra-senha para reconhecimento pelos militares dos civis intervenientes. Ainda de acordo com o dito libelo acusatório, esta acção traduzia-se na formação de grupos de civis armados apoiando os militares na ocupação da unidade, sendo decretada a proibição da entrada do comandante.

Na madrugada do dia seguinte, Jaime Neves aproximou-se da porta de armas, tendo-lhe sido vedada a entrada. Conforme a acusação este é informado por um dos capitães, que terá assumido o comando da unidade na qualidade de oficial mais graduado. Informa ainda, que o segundo comandante e alguns oficiais e sargentos teriam sido presos. No dia 1 de Agosto de 1975, Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante do COPCON, dirigiu-se ao quartel dos comandos a fim de marcar uma Assembleia de militares do Regimento, à qual compareceriam os militares propostos para afastamento. Foram constituídos réus 21 militares, mais especificamente quatro oficiais do exército, um sargento e 16 furriéis, que eram acusados de 134 crimes praticados no período compreendido entre 11 de Março e 25 de Novembro de 1975. Os militares estiveram em prisão preventiva, no ano de 1978, durante nove meses sem nunca terem sido ouvidas as suas declarações.

A situação caótica que se vivia em Portugal no decurso do Processo Revolucionário em Curso (PREC), só culminou com o 25 de Novembro de 1975, que se tratou de um golpe militar que pôs fim à influência da esquerda militar radical no período revolucionário pós 25 de Abril de 1974. Este contra-golpe foi levado a cabo pelos militares da ala moderada, na qual se enquadravam Vasco Lourenço, Jaime Neves e Ramalho Eanes. Consequentemente, o almirante Pinheiro de Azevedo permaneceu no poder enquanto primeiro-ministro do VI Governo Provisório e demitiram-se alguns militares, entre os quais Otelo Saraiva de Carvalho. O 25 de Novembro traduziu-se militarmente naquilo que a nível político se vivera no “Verão Quente de 75”, período conturbado caracterizado por uma certa anarquia no Governo, Forças Armadas e sociedade em geral.

Somente dez anos mais tarde, em 1985, é que os “opositores de Jaime Neves” foram absolvidos no Tribunal de Santa Clara, na base de que a acusação “formulada em última instância no recurso do Supremo Tribunal Militar” era “improcedente e não provada”, como foi publicado no “Diário de Lisboa” de 18 de Junho de 1985. Ainda nesta edição é referido que “os militares que participaram no movimento de 30 e 31 de Julho de 1975 não intimidaram qualquer superior nem tão-pouco atentaram contra a ordem instituída, pois não procuraram assumir a chefia da unidade que imediatamente delegaram num representante da cadeia hierárquica (…)”.

NOTA: O meu pai foi um dos militares envolvidos no processo. A 'Retronew' é baseada em recortes de jornais da época.


José Luís Torres, o meu pai - Furriel dos Comandos.

 

REPORTAGEM - Luz, Câmara, Acção [Social]! (2011)



Executivo e jornalistas “tomam café” com população sem-abrigo

"Alexander King diria que “a necessidade básica do coração humano durante uma grande crise é uma boa chávena de café quente”. Eu acrescentaria à chávena de café quente, uma boa conversa, um olhar atento. Sem preconceitos, sem juízos de valor."



Paragem na Caixa Geral de Depósitos - Rua da Sofia (Baixa de Coimbra)

"Casa" improvisada na Cave das Químicas
A noite da passada quarta-feira, dia 4 de Maio, foi diferente para alguns dos sem-abrigo de Coimbra. Não é que não estejam já habituados à “ronda” semanal da Equipa Móvel de Intervenção Social (EMIS), que sai à rua apoiada pelos Bombeiros Sapadores da cidade. O que não esperavam é que esta fosse assistida por tanta gente. É que, desta feita, o usual “giro” nocturno – normalmente perpetrado por uma média de três voluntários – foi acompanhado pelo executivo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e por vários jornalistas, dando a estas pessoas uma sensação de visibilidade à qual não estão acostumadas.

Enquanto uns se aprontaram a esconder, intimidados com as máquinas fotográficas e outros apetrechos jornalísticos, contrariamente outros prontificaram-se a partilhar as suas histórias e a manifestar as suas revoltas. Alguns até pousaram para as câmaras entusiasmados com uma possível aparição no jornal.

No decorrer do périplo pelos recantos da cidade que uns desconhecem e outros desprezam (Químicas; Hospital Velho; Centro Comercial Avenida; CGD; Tivoli; Fernão de Magalhães; Casa do Sal; Praça do Comércio; Rua Adelino Veiga e Parque da Cidade), encontrámos um professor de música, um pedreiro escritor, um estudante, uma professora de filosofia, um ‘manicure’ com o sonho de animar discotecas, entre outros ofícios que parecem de nada lhes valer no que toca a reintegrá-los na sociedade.

A solidão e a ausência de afectos são os estados de alma que mais pairam nas ruas e que os leva a cair em profunda depressão, a deixar de ter esperança no futuro e, sobretudo, a confiar – quer neles próprios, ou na sociedade que os colocou à margem. Estão na rua pelas mais variadas razões. Problemas de saúde, rupturas familiares, desemprego e adições (álcool ou drogas) são os motivos mais comuns.
 

Voluntários procuram proximidade com população carenciada

Pedro Machado diz ser difícil “traçar um perfil [de sem-abrigo] ”. Este voluntário não acredita que exista uma “Nova Pobreza” advinda da actual crise financeira. “Os problemas de forma geral mantêm-se iguais, podendo estar um pouco mais agudizados com a crise”, afirma.
 
Cândido Lopes é um dos mais antigos voluntários da EMIS, estando integrado no projecto desde a sua criação, em 2004. É muito popular entre os sem-abrigo, que o recebem com grande afeição. Carinhosamente tratado por “Cândido”, conhece a fundo os casos mais problemáticos, sendo, para estas pessoas, o “amigo” mais esperado. Este “amigo dos desfavorecidos” confidenciou que há “um número considerável de sem-abrigo em Coimbra”, sendo que “nem todos aparecem com vergonha de assumir”.
 
Para os dois voluntários, o objectivo da EMIS é essencialmente “conversar um bocadinho” e manter uma proximidade com esta população carenciada, de forma a melhor entender as suas reais necessidades. Para tal, os voluntários nunca se esquecem do tão apreciado café de cevada que os aconchega e lhes desperta a vontade de conversar.
 

O "café do conforto"

À medida que fomos “descobrindo” os habitantes ocultos da cidade, foi-se criando a tal atmosfera de proximidade e afinidade. A certa altura, deixámos de ser meros "estrangeiros" no seu mundo e o ambiente tornou-se familiar. Foi como tomar um café com os amigos: ouvimos os seus desabafos, as suas peculiaridades, as suas vivências; convivemos e conversamos, entre iguais. Feitos da mesma substância. Até que percebemos que o que lhes aconteceu – os motivos que os conduziram àquela condição – pode acontecer a qualquer um de nós, a qualquer altura das nossas vidas ténues! Envolvidos no aroma do “café do conforto”, assim baptizado por um voluntário, reflectimos e chegamos à conclusão que, caso a nossa vida se corrompesse ao ponto de ficarmos a sós com as calçadas, o mínimo que desejaríamos era que olhassem para nós, com olhos de ver, e nos dessem uma palavra amiga.
 
Alexander King diria que “a necessidade básica do coração humano durante uma grande crise é uma boa chávena de café quente”. Eu acrescentaria à chávena de café quente, uma boa conversa, um olhar atento. Sem preconceitos, sem juízos de valor.
 

Da conversa à acção


«Ninguém está perdido, desde que se queira encontrar consigo próprio»
 
Com os pelouros da Acção Social e Família, desde o ano passado, Maria João Castelo Branco teve um papel bastante activo durante a visita aos sem-abrigo. O diálogo e o aconselhamento à população em causa estiveram presentes na sua atitude ao longo de toda a “ronda”. De acordo com a vereadora da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), não é suficiente dar aos necessitados “aquilo que no imediato precisam”. O essencial é construir-lhes um projecto de vida, encaminhando-os social e profissionalmente, prestar-lhes cuidados de saúde e, sobretudo, “saber se têm esse desejo”.
 
Maria João Castelo Branco diz ser fundamental que haja “adesão ao projecto de vida”. E explica que há casos em que “as pessoas têm dúvidas se querem integrar-se novamente na comunidade”, acrescentando, ainda, que “sem uma adesão espontânea não se consegue nada”. Para tal, afirma ser “preciso criar esta relação de confiança durante dias, semanas, meses, anos para tentar cultivar nestas pessoas a esperança de que ninguém está perdido, desde que se queira encontrar consigo próprio”, para depois reencontrar-se com a comunidade em geral.
Nesse sentido, a vereadora não deixa de louvar o trabalho daqueles que “se voluntariam de corpo, coração e alma, através do Banco de Voluntariado da autarquia” e que se “solidarizam com os técnicos da CMC para no verdadeiro sentido da cidadania tentar incluir estas pessoas”. Aqueles que, semanalmente, efectuam este trabalho “têm o diagnóstico feito, conhecem as pessoas, conversam com elas e apagam-lhes um bocadinho daquela solidão”, ressalta. Quanto à recorrência deste acompanhamento por parte do executivo, Maria João Castelo Branco adianta: “Tem que se repetir. Da minha parte tenho que voltar muitas vezes. As que forem precisas”.
 

EMIS actua desde 2004

É no sentido de criar laços de confiança e de promover a inclusão que a Equipa Móvel (EMIS) anda pelas ruas de Coimbra, todas as quartas-feiras à noite, desde 2004. Existem determinados pontos onde “as pessoas já esperam a equipa”, mas a sua função é também “verificar qual é a rua ou qual é o canto da cidade onde está alguém que se sente desprotegido ou que está em situação de carência”. A ideia é que os técnicos cheguem ao final da noite e sejam capazes de, no dia seguinte, “reportar tudo o que viram” e fazer um “estudo de caso”. O projecto da Divisão de Acção Social da CMC, integrado no PNAI - Plano Nacional de Acção para a Inclusão, conta com a parceria da Segurança Social e, ainda, com diversas instituições de solidariedade social que, rotativamente, “de segunda a sexta-feira fazem o acompanhamento destas pessoas” - Segurança Social; Cáritas; Integrar; AMI; Cozinhas Económicas; Casa Abrigo Padre Américo; Centro João Paulo II; Associação Nacional de Apoio a Jovens e Ordem Terceira de S. Francisco.
 

Coimbra tem 200 sem-abrigo referenciados

O director do Departamento da Acção Social da autarquia fala em cerca de 200 casos de sem-abrigo referenciados, embora esta seja uma população flutuante. “Há momentos do ano em que temos mais casos e outros menos”, esclarece. João Gaspar diz não existir “um estudo estatístico concreto [de reintegração], mas as histórias de vida dizem-nos que temos casos de sucesso”. No entanto, esta população é “muito difícil de ressocializar”, admite. O responsável acrescenta que “a sociedade civil pode dar uma resposta, mas eles próprios [sem-abrigo] também terão de estar abertos a essa resposta”. O dirigente coloca toda a sua convicção na “equipa de quarta-feira” que está “permanentemente em cima das situações” e na estreita relação com as outras instituições parceiras da Câmara, que interagem entre si. Durante o “giro” surgiu um novo caso, ao que João Gaspar garantiu: “Amanhã [quinta-feira] já saberão que um indivíduo foi identificado e será referenciado.
 

A voz de quem vive a solidão e a nostalgia das “ruas da amargura”

Marcelo, de 60 anos, diz que o que mais o atormenta é a solidão. Por isso, prefere viver numa “casa” improvisada que partilha com os seus “camaradas” do que pagar um quarto. “Tenho aqui os meus amigos”, sublinha o amante de cinema e de letras. E justifica com um ditado: “Vale mais um grande amigo que um grande amor”. O seu companheiro de “lar” chama-se Hernâni, tem 52 anos e, pelas suas contas, vive ali há dois, três anos. Pedreiro de profissão, a epilepsia levou-o a deixar de trabalhar na sua “arte”. Parece antagónico que um homem que levou a vida a construir telhados para os outros, não tenha um tecto seu. “Sou demasiado novo para estar reformado e demasiado velho para trabalhar”, desabafa. E conta que há pouco tempo perdeu um emprego por estar a viver na rua. “Fui honesto com a empresa. Disse-lhes qual era a minha situação, mas não houve hipótese porque não tinham alojamento”, explica. Este pedreiro que já escreveu um livro, curiosamente, intitulado “Ventos de mudança, ventos de tolerância”, admite querer mudar de vida. “Eu mais do que ninguém sei que não quero isto. A força que eu quero ganhar para sair disto é para poder exercer de novo a minha arte”, garante. Hernâni confessa que se tem mantido ali “para curar muitas coisas que tinha na cabeça” e que enquanto ali está vai “arrumando o sótão”. Apesar de concordar que a sua precariedade já se prolonga há demasiado tempo, confirma que acaba por se criar um “modo de vida” e que há quem volte “movido pela nostalgia”. A receber o Rendimento Social de Inserção já ponderou a hipótese de ir para um quarto, embora não lhe agrade a ideia de andar “o resto do mês com 50 euros no bolso”.

Muitas histórias idênticas, as mais variadas razões, vidas que caminham à deriva num limbo de incertezas e que dormem sob o abismo, em qualquer canto que os acolha mais do que a própria existência. Esta é a realidade! Basta que estejamos atentos, que ponhamos o egocentrismo à parte, que nos coloquemos do lado de lá e que façamos algo. E pode começar por um sorriso, uma palavra de alento ou, simplesmente, saber ouvir!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ENIGMA


Quero escrever!
Mas, sinto-me oca...
É como se não existisse,
E não tivesse nada para contar
nem de outrora, nem de hoje
(Ou talvez não o queira fazer!)
O que me faz assim vazia?
Será que a minha alma evaporou,
Ou, simplesmente, não me quero entregar?
Não diria que é por medo, ou vergonha...
Afinal não sou eu "Giraldo sem pavor"?!
Talvez seja falta de paciência...
Sim. Pode ser!
Falta de paciência para intrusões e julgamentos,
Talvez queira o recato...
Porque não?!
O que importa aos outros,
O quão ambíguo é o meu ser?
É o meu enigma, nasci para o decifrar...
Todos temos o nosso!
«(...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma.Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. É outro exercício salutar.»

Alexandre O'Neill

A vida não passa de uma visita turística à Terra, na qual somos os nossos próprios guias...

Demoramos por cá uma indefinida escassez de tempo que não dá sequer para ver algumas coisas: somos meros visitantes do mundo, forasteiros solitários, efémeros hóspedes que jamais conhecerão o pequeno grande habitáculo… Como não sabemos quando é a nossa viagem de regresso ao “Lugar Incógnito”, só temos que nos instalar por aqui, erguer o nosso lar e fazer algo que legitime a nossa brevidade! Para isso, temos que AMAR: 1) Amar a nossa existência no “Lugar Emprestado”; 2) Amar os outros que partilham a mesma condição de “Seres Transitórios”; 3) Amar as coisas que construímos e imortalizar nelas o nosso AMOR! Há que VIVER os Hojes e os Agoras, sem aquele constante incómodo no estômago estimulado por pensamentos carregados de formas verbais de futuro, impregnadas da “Única Grande Certeza” ou, ainda, de lamentações e culpas do passado. Os tais que paralisam o simples acto de Sorrir porque o sol nasce e ilumina a janela do quarto, ou porque a noite está resplandecente de luar... Perder – a “Grande Atrocidade da Morada Provisória” – é algo que nos é inerente e que dói como se nos sugassem a alma pelos poros! Jamais aceitaremos lei tão desleal! O vazio e o luto permanecerão ao longo da nossa “Curta Estadia” e irão na bagagem aquando da nossa partida! Porém, há algo no passado que embora não solucione atenua levemente o sofrimento: a Recordação – aquela que não devolve, mas que nos afaga ao evocar os Bons Momentos vividos numa sucessão de Presentes em que fomos felizes! Aqueles que perdemos apenas desapareceram fisicamente, basta olhar para o nosso âmago para o perceber – contemplar como quem é cego, pois só quem abdicou do órgão da visão, encontrou o mundo dentro de si mesmo – e veremos que eles estão lá, mais próximos do que nunca! E no nosso íntimo as suas vozes suplicam: Não chores, ama a vida e saboreia o tempo que te resta! Talvez um dia tenhamos a recompensa...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Prisioneira da Rotina (2008)

Acordaria cedo, cercada de granito e de aromas transmontanos aos quais não estou habituada. Olharia pela janela e ver-me-ia rodeada de aglomerações rochosas, de paisagens em tons de terra e musgo, adornadas por vinhas inculcadas em horizontes altivos e nobres. Depois veria o solo insípido pelas chuvas impetuosos já previstas para as regiões Norte, e dar-me-ia ao luxo de inalar o delicioso e inigualável bálsamo da terra molhada. Nisto, uma torrente de prazer lavar-me-ia a alma corrompida pelos malogros citadinos e, eis que, uma vaga de satisfação me repararia o espírito debilitado. Com um novo alento, abandonaria o meu crepuscular covil e, embevecida, receberia o esplendor da aurora. Apesar do temporal, não hesitaria, e iria sentir tudo aquilo mais de perto. Abriria a porta e sentiria a brisa de tudo aquilo, o genuíno cheiro de Trás-os-Montes!Desejaria, com ganância, agarrar toda aquela essência e perpetuar aquela brisa em mim. Esquecer-me-ia propositadamente do guarda-chuva (aqui mais conhecido por “chuço”) e permitiria que as frias “lágrimas de céu” me arrepiassem a pele. Percorreria todos os rústicos becos, todos os caminhos de cabras, sujaria a roupa de lama, ouviria as vozes da montanha contar-me estórias com a sua peculiar pronúncia e deliciar-me-ia com o sabor da tradição. Não me esqueceria de comer o doce de abóbora a que chamam “doce de calondro”, nem dispensaria uma “malga” de caldo verde cozinhado na antiga panela de ferro, o famoso “pote” da "tia" com nome de flor que ostenta um aceso e sincero sorriso de um só dente.Ao invés disso, alvoreci dominada pela “Teoria do Caos” e com uma enorme vontade de aniquilar a borboleta que terá batido as asas na “Cochinchina”, a fim de me provocar um furacão existencial! Levantei-me, melancólica, movida pela mesma amargura do costume, com a mesma fraqueza nas pernas e com as lamúrias de sempre. Então, abri a torneira e passei água na cara, tomei a “pílula mágica”, vesti-me e saí para tomar o pequeno-almoço. Dirigi-me a uma pastelaria local e, para não variar, pedi um croissant e uma Ucal fresca. Seguidamente, fui a um shopping tomar um café e comprar o jornal. Sem demora, regressei a casa e fui beber as palavras inscritas no “Expresso” ao som de “Muse”. Assim, refugiada na segurança da rotina, deixei para trás tudo aquilo que podia ter feito e não fiz…