«O sábio pode mudar de opinião. O ignorante, nunca.» - Kant
Mudar de opinião não é fraqueza, nem desonra, nem falta de carácter e tampouco um distúrbio de personalidade ou um qualquer transtorno psicológico.
Antes pelo contrário!
Mudança – por si só – pressupõe algo de positivo, quando realizada com a devida ponderação, é evidente. Prevê uma transição para alguma coisa melhorada e é o ponto de partida para a evolução. No caso específico da opinião, esta terá que ser feita com base na sensatez e sempre ouvindo a voz interior.
A borboleta passa por várias mutações para se aperfeiçoar e se tornar, de facto, numa borboleta. Se esta se fechasse à metamorfose não seria mais do que uma larva. Se pretendemos – tal como a borboleta – ter asas e ser livres, então não nos podemos acorrentar a ideias concebidas, concepções imutáveis, juízos absolutos e irrevogáveis.
Claro que há princípios e valores que não podemos desprezar (fazem parte da nossa bagagem e são referências fundamentais sobre quem somos), mas daí a sermos tão rigorosos ao ponto de não fazer patavina que contrarie a nossa inquestionável “bíblia” de opiniões, chega a ser absurdo.
Defender um ideal é legítimo, acreditar nisto, naquilo ou naqueloutro é igualmente válido. No entanto, nada é tão perene assim e a nossa mente é um turbilhão de pensamentos que acompanha a agitação feroz dos tempos, os factos do quotidiano, com toda a sua imprevisibilidade e, ainda, as diferenças com as quais temos de lidar, já que não estamos sós no planeta.
Não podemos esquecer que se temos as nossas opiniões, os outros também as têm. É um direito de todos e o dever de cada um – enquanto indivíduo civilizado – é admitir essa multiplicidade, sem ver uma ideia divergente como uma afronta pessoal. Ninguém é dono da razão e o egocentrismo exacerbado é o grande inimigo das relações humanas. Desta forma, tolerar, perdoar ou simplesmente coexistir torna-se impraticável e o mundo não pula nem avança, como no poema de António Gedeão.
Mudar de opinião é, por isso, sinal de inteligência e, sobretudo, de coragem: a coragem de enfrentar a sociedade e os seus julgamentos, acabando rotulado de estúpido, tolo e desleal. Um ser rejeitado pela sua elasticidade, mas feliz. Afinal, adaptar não é mais senão evoluir!
Façamos, então, um favor a nós mesmos e desconstruamos, um pouco que seja, o mundo chato de "ideias-decreto", e caminhemos para a nossa metamorphosis!